As notícias sobre a crise política e econômica na Venezuela se tornaram uma constante no noticiário brasileiro e no mundo. A construção desse cenário remete ao passado político recente do país, que por muito tempo foi o país mais rico da América Latina e reconhecido pela sólida democracia. Há 15 anos, os episódios catastróficos se tornaram parte do cotidiano da Venezuela e, atualmente, o colapso humanitário, social, econômico e político é evidente.
A inflação está acima dos 1.000.000%, ocorreram diversos cortes no fornecimento de água e energia, o sistema de saúde não está atuando e fornecimento de água e alimentos é escasso. De acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), o PIB per capita do país teve queda de 35% entre os anos 2013 e 2017, com mais da metade da população vivendo em condições de pobreza, o que também gerou o aumento da criminalidade e violência. Atualmente, Caracas, a capital da Venezuela, ocupa o primeiro lugar no ranking das cidades mais violentas do mundo.
Desde as eleições de 2018, a instabilidade do país aumentou e houve, inclusive, ameaças de intervenção por parte de outros países que questionaram seu resultado e não reconheceram a legitimidade do novo mandato de Nicolás Maduro. Após uma grande manifestação oposicionista, Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, se declarou presidente interino da Venezuela, gerando uma grande mobilização mundial.
Após a declaração de Guaidó, os países apoiadores organizaram doação de alimentos e outros itens básicos de higiene e saúde que foi prontamente recusada por Nicolás Maduro, o qual afirmou que não seria permitida a entrada de qualquer ajuda humanitária. Esse cenário agravou ainda mais os protestos, violência e tentativas de deixar o país por parte dos venezuelanos.
Em março de 2019, uma série de blecautes e um apagão afetou 22 dos 23 estados do país, interrompendo o fornecimento de água e energia, gerando colapso nos hospitais e agravando um cenário já catastrófico e mais evasão por parte dos venezuelanos.
O país que mais recebe refugiados e imigrantes na região é a Colômbia, seguida pelo Peru. Alguns países estudam solicitar documentos específicos para aceitar a entrada desses imigrantes em decorrência da quantidade de pessoas, mas também do perfil desses imigrantes. Nos primeiros anos, os venezuelanos que deixavam o país possuíam diploma de ensino superior e acabavam sendo incorporados ao mercado de trabalho com mais facilidade. Hoje, as pessoas saem da Venezuela em condições extremamente precárias sabendo que pode ser muito pior no país de destino.
Assim como acontece na maioria dos casos de refúgio e imigração, os venezuelanos criaram redes de apoio já que a recepção institucional nos países receptores ainda é bastante falha. Essas redes funcionam para conseguir comida, moradia e emprego, sendo essencial para a sobrevivência, que já não era nada fácil na Venezuela. Para ajudar a entender o cenário venezuelano: o salário mínimo, atualmente, é de 8 dólares por mês, aproximadamente R$33,00.
Ou seja, os venezuelanos buscam refúgio pelas graves violações aos Direitos Humanos e, também, pela incapacidade de atendimento de necessidades básicas de subsistência. Sem que a Política e Economia do país se estabilizem, não há como conter o fluxo migratório. Nesse processo, cabe aos países humanizar cada vez mais suas ações para que essas pessoas não sofram novas violações e violências.
Ainda hoje, as notícias que recebemos por aqui são de muita movimentação e violência. Cabo ao Brasil, assim como aos demais países de destino, construir políticas e aprimorar a recepção dessas pessoas enquanto a Venezuela busca sua estabilidade e melhores saídas aos impasses enfrentados.