Iêmen, a tragédia de uma guerra esquecida.

Por Pedro Ganem

As previsões são as mais estarrecedoras possíveis. O Iêmen se encontra à beira de uma das maiores catástrofes humanitárias de todos os tempos. Existe o medo que o país atravesse a maior fome de sua história. A guerra que toma conta do país faz com que a situação da população piore a cada dia.

Segundo o Unicef, mais de 11 milhões de crianças precisam de ajuda humanitária desesperadamente no Iêmen, principalmente contra a fome, em um país considerado pelo Unicef como o pior lugar do mundo para ser uma criança.

Dois milhões e meio de meninos e meninas iemenitas sofrem de desnutrição aguda, e a cada 10 minutos uma morre.

Além disso, o Iêmen foi acometido pela pior epidemia de cólera já registrada no mundo, tendo infectado mais de 700 mil pessoas, das quais 50% são crianças, e matado mais de 2 mil.

Estima-se que da população de 27,5 milhões de habitantes, aproximadamente 80%, ou seja, 22 milhões, precisam de ajuda humanitária ou de proteção imediatamente.

A guerra que se arrasta desde 2015 já fez 10.000 mortos e deste total 1.700 eram crianças, e 56.000 feridos.

 

Como tudo começou

 

Em 2011, na sequencia da Primavera Árabe, movimento de revoltas e revoluções populares contra governos totalitários no mundo árabe, a chamada “Revolução Iemenita” acabou forçando a saída do presidente Ali Abdullah Saleh após 33 anos no poder, passando o comando do país para o vice Abdu Rabbu Mansour Hadi.

Uma sequencia de problemas afetaram a tão esperada estabilização do país. Ataques da Al-Qaeda, movimentos separatistas no sul, resistência de militares leais a Saleh, e a continuidade da corrupção, desemprego e ameaça da fome, que motivaram a revolução.

Em setembro de 2014, os houtis (nome comum do movimento político-religioso “Ansar Allah”, que significa partidários de Deus, em sua maioria composto por xiitas zaiditas, mas com sunitas também), apoiados por muitos iemenitas insatisfeitos, entraram em Sanaa, capital do Iêmen, e bloquearam ruas e vias de acesso.

Em janeiro de 2015 cercaram o palácio presidencial colocando o presidente Hadi e todo seu gabinete em prisão domiciliar. Em fevereiro, Hadi foge para cidade de Áden, deixando o Iêmen mais tarde para se exilar em Riad, capital saudita.

A Arábia Saudita e mais 8 Estados sunitas, preocupados com o crescimento dos hountis, acreditando que são financiados pelo Irã, inimigo declarado da Arábia Saudita, começaram uma séria de ataques aéreos devastadores para tentar restabelecer o governo de Hadi. Para isso receberam apoio logístico e de inteligência dos estados Unidos, Reino Unido e da França.

A coalizão impôs um bloqueio marítimo total ao Iêmen com a desculpa de impedir entrada de armas para os rebeldes, mas, esse bloqueio tem impedido a entrada de ajuda humanitária, como alimentos, remédios e água potável, o que pode fazer com que a epidemia de cólera volte ao país.

Uma das ONG’s mais atuantes do mundo, “Médicos Sem Fronteiras”, parou de atender no país, o bloqueio imposto ao Iêmen não deixa aviões com medicamentos pousarem, o estoque de sangue está no fim.

 

Conhecendo um pouco do Iêmen

 

Iêmen ou al-Yaman em árabe, é um país árabe localizado na Península da Arábia, fazendo fronteira com a Arábia Saudita e Omã.

Tem uma importância estratégica por estar localizado no estreito de Bab-el-Mandeb, que faz a ligação do Oriente Médio com a África, sendo a rota de navios petroleiros.

A cidade mais populosa é Sanaa, capital do Iêmen.

O país abrigou o Reino de Sabá, citado inclusive na Bíblia, Reino que se espalhou pela Etiópia e pala Eritreia.

Já esteve sob domínio judeu, tornando-se mais tarde um país islâmico, e no início de século XX foi dividido entre os impérios Britânicos e Otomano.

Após a 1a Guerra Mundial, foi estabelecido o Reino Mutawakkilite do Iêmen, o Iêmen do Norte, que ficou independente com o fim do Império Otomano, e em 1962 tornou-se República Árabe do Iêmen.

A República Democrática do Iêmen ou Iêmen do Sul continuou sendo um protetorado britânico até conseguir sua independência em 1967.

Em 1990 os dois se uniram formando a República Moderna do Iêmen.

O idioma oficial é o árabe e é considerado o mais pobre dos países árabes.

 

A guerra esquecida

Faltam vozes na mídia mundial clamando por ajuda para o Iêmen.

Faltam pessoas nas redes sociais levantando a bandeira iemenita.

Não se vê pessoas com o rosto pintado com as cores do Iêmen nas redes dizendo “Eu sou Iêmen” ou “Eu sou Sanna”, a capital devastada pelos bombardeios da coalizão.

Aonde estão as vozes dos poderosos pedindo que os bombardeios e os bloqueios, considerados catastróficos pela ONU parem?

Três milhões de pessoas foram obrigadas, até agora, a abandonar suas casas em consequência da guerra.

A estrutura administrativa do país foi destruída pelos bombardeios realizados pela Arábia Saudita, onde as principais vítimas foram civis, especialmente crianças.

A expectativa de vida é de menos de 64 anos e a taxa de mortalidade materna é de 200 para cada 100 mil e a mortalidade infantil é de 50 para cada mil nascidos.

Segundo um dos lemas dos “Médicos Sem Fronteiras”, só quem pode ajudar um ser humano é outro ser humano.

Fechar os olhos a toda essa tragédia é de uma certa forma um ato de violência.

Vamos levantar essa bandeira, “Eu sou Iêmen”.