Seis anos da Guerra na Síria, uma data para não comemorar

Em 15 de março de 2017 completaram-se seis anos da Guerra da Síria.

 

Uma data que não tem nada para ser comemorada, porém, muito menos para ser esquecida.

 

Uma guerra sangrenta, talvez a mais sangrenta desde a Segunda Guerra Mundial. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o conflito sírio é o “pior desastre causado pelo homem” desde a Segunda Guerra Mundial.

 

Estima-se que aproximadamente 500 mil pessoas perderam a vida, quase 5 milhões tiveram que refugiar-se em outros países e mais de 10 milhões tiveram que deslocar-se internamente por ruas e cidades arruinadas pelo descalabro causado por uma guerra insana. Os números divergem dependendo da organização que avalia.

 

Cidades históricas, patrimônios da humanidade foram devastadas. Famílias inteiras dizimadas e divididas.

 

 

Guerra da Síria, como tudo começou

 

Antes de a Guerra da Síria começar, havia uma insatisfação generalizada com o alto índice de desemprego, falta de liberdade e uma forte repressão por parte de Bashar al-Assad, que chegou ao poder em 2000, sucedendo seu pai.

 

Em 2011, adolescentes que haviam pintado mensagens revolucionárias em muros de uma escola em Daraa, sul da Síria, foram presos e torturados pelo governo, provocando mais protestos, mais manifestações e uma sequência da Primavera Árabe, a revolta por liberdade que tomava conta do mundo árabe.

 

Forças de seguranças sírias atiraram e mataram vários manifestantes, o que fez com que centenas de milhares de pessoas saíssem às ruas pedindo a renuncia de Assad. À medida que a repressão do governo aumentava e se tornava mais violenta, manifestantes oposicionistas começaram a pegar em armas, primeiro como defesa, e depois para expulsar os governistas de suas cidades. Começava a guerra civil.

 

Em 2012 a guerra havia chegado a Damasco, capital síria, e a Aleppo, sua segunda maior cidade.

 

Aproveitando-se do caos instalado na Síria, o Estado Islâmico tenta se solidificar na região, tomando várias cidades.

 

Estados Unidos, França, Inglaterra, Rússia, Irã e Arábia Saudita entre outras potências, se envolveram de alguma forma no conflito.

 

Um dos grandes símbolos dessa guerra foi a retomada de Aleppo no final de 2016. Extremamente destruída e palco de um teatro de horrores, com a morte de muitos de seus habitantes e fuga em massa, sua retomada dá ao povo sírio a esperança de que a guerra pode estar se encaminhando para o fim.

 

Esperança essa que se abala ao vermos um atentado justamente no dia que a guerra completa seis anos. Em Damasco, um ataque suicida em 15 de março, deixa mais de trinta mortos no Palácio da Justiça.

 

No sábado próximo passado, dia 11 de março, outro atentado, desta vez reivindicado pelo grupo terrorista Estado Islâmico, causou a morte de 40 peregrinos xiitas em Damasco.

 

 

Situação de algumas cidades depois de seis anos de Guerra na Síria

 

 Daraa, onde começaram os protestos, foi retomada pelas forças de Bashar al-Assad, contudo, alguns rebeldes continuam infiltrados e fazendo atentados.

 

Damasco, capital e principal reduto do regime de Assad, tenta manter a normalidade abrigando embaixadas de governos estrangeiros e vida social ativa. Apesar de não ter sido palco dos grandes combates, tem sofrido com atentados. Um deles reivindicado pela Frente Fateh al-Sham, ex-facção da rede Al-Qaeda, deixou 74 mortos.

 

Palmira, cidade histórica considerada Patrimônio Mundial da Humanidade da UNESCO, com mais de 2.000 anos de antiguidade, foi tomada em dois momentos pelo grupo Estado Islâmico. Primeiro, em maio de 2015, dez meses depois os soldados sírios, apoiados pela aviação russa, os expulsaram de lá. Depois, em dezembro de 2016, sendo expulso novamente em março deste ano.

 

Raqqa, considerada a “capital” do Estado Islâmico no país e do califado que o grupo criou na Síria e no Iraque, tem sido alvo de bombardeios aéreos da coalizão comandada pelos EUA e de incursões da Força Aérea Russa.

 

Aleppo, retomada das mãos dos rebeldes em dezembro de 2016 após mais de quatro anos de combates, o que foi considerado a maior vitória do governo desde o início da guerra.

 

 

Assad no poder

 

Os grupos que lutavam para derrubar o regime de Bashar al-Assad, perderam, além de territórios que haviam conquistado, a força simbólica do movimento, e já não mais apresentam a possibilidade de serem um substituto ao governo de Assad, como o Exército Livre da Síria chegou a ser visto no início do conflito.

 

Depois de seis anos de guerra, o que se queria ou acreditava poder conseguir, hoje parece ser muito pouco provável, a retirada de Bashar al-Assad do poder.

 

 

Negociações de paz para Guerra da Síria

 

Anteriormente as negociações de paz que eram realizadas na Suíça encabeçadas pela ONU, agora, em 2017 passaram a ser no Cazaquistão, encabeçadas por Rússia e Irã, principais aliados do governo de Bashar al-Assad, e a Turquia, que apoia os grupos rebeldes.

 

Não se conseguiu nenhum grande resultado até o momento, mas as mudanças de local e de liderança demonstram a vontade da Rússia em agir de forma mais enérgica no conflito.

 

Por outro lado, os Estados Unidos tomaram uma posição de maior afastamento do conflito após a eleição de Trump, que em seus discursos de campanha sempre demonstrou ter como prioridade combater EI, e nem tanto tirar Assad do comando.

 

Existe um cessar-fogo em vigor na Síria, mas as denúncias de violação continuam chegando. Infelizmente o cessar-fogo não inclui grupos terroristas.

 

 

Consequências da Guerra da Síria

 

As consequências dessa guerra foram a devastação quase que completa do território sírio. Famílias que foram separadas ou pela morte de quase todos os membros ou pela diáspora que se espalhou pelo mundo, em busca de lugares melhores para viver. Pessoas que se recusam a deixar suas casas, seu país, a terra de seus antepassados, hoje vivem em condições abaixo do que se supõe necessário para um ser humano viver com dignidade.

 

O Brasil abriu as portas para refugiados sírios, o que tornou essa guerra, que antes era um espetáculo de horror visto pela TV, em uma calamidade acontecida com pessoas que passamos a conhecer e a conviver mais de perto, ouvindo seus relatos de como os pavores da guerra e da fuga para lugares de esperança mudaram por completo suas vidas.

 

Ajuda humanitária deixou de ser responsabilidade de grandes potências e passou a ser responsabilidade de cada um de nós.

 

Existem muitas oportunidades de fazer alguma coisa por essas pessoas que tanto precisam de tão pouco.

 

Neste mesmo site, você encontra projetos de ajuda humanitária que são de importância que podem significar a diferença entre viver ou não para alguns.

 

Vamos fazer a nossa parte.

 

Essa pode ser uma boa forma de comemorarmos esse aniversário trágico.

 

 

Por Pedro Ganem